domingo, 29 de julho de 2012

Voto e Religião

A semana passada dei uma entrevista para a televisão, discutindo a questão do voto dos evangélicos, dos jovens e das mulheres. Resolví explicar melhor essas questões para os meus queridos leitores (não confundir com eleitores)
O assunto de hoje é Religião e Voto.

Nos últimos anos tem sido cada vez maior a presença de candidatos evangélicos nos processos eleitorais, assim como cresce a bancada de evangélicos na Câmara Federal e em algumas Assembléias Legislativas. Isso tem aumentado o potencial político dos políticos evangélicos, que já se apresentam como boas opções na formação de chapas majoritárias. A crença embutida nessa relação é que o pertencimento às igrejas evangélicas explica o comportamento eleitoral desse segmento da população. A pergunta que fica: O que explica essa realidade e o que torna os evangélicos diferentes dos católicos, por exemplo?

É verdade que evangélico vota sempre em evangélico? Como pensávamos, antigamente que trabalhador vota em trabalhador?
Na minha opinião se religião explicasse o voto, católico votava em católico, umbandista em umbandista, budista em candidato budista, e por aí adiante. A questão vai um pouco mais além. 
Em pesquisa que realizamos sobre a "geografia do voto" na Região Metropolitana de Natal, chamou-nos atenção a distribuição da votaçao, na eleição de 2006 (primeira eleição analisada na pesquisa) do deputado Antônio Jácome, pastor evangélico. Ele foi um dos deputados classificados por nós, como "deputado metropolitano" por obter mais de 50% de seus votos na região metropolitana de Natal (principalmente em Natal, Parnamirim e São Gonçalo). Quando analisamos a votação do candidato em Natal ficaram claras as áreas onde os seus votos predominaram: Felipe Camarão, Quintas, e alguns bairros da Zona Norte, isso é, as regiões mais periféricas e mais pobres da cidade, onde se concentra a maioria da população evangélica. 
A votação do candidato nos bairros de classe média e alta, da cidade, era quase insignificante.

A pergunta que se segue é a seguinte: Não existem evangélicos nesses bairros?
Um censo realizado há alguns anos atrás, por pesquisadores da UFRN, sobre a presença dos evangélicos na cidade, mostra que sim, mas a votação dos candidatos evangélicos nessas áreas é insignificante.
A tese que defendo, então, sobre o assunto é a seguinte:
Apesar do crescimento das igrejas evangélicos na sociedade brasileira, como um todo, é na periferia das cidades que essas igrejas assumem um papel de maior influência no comportamento das pessoas. Isso porque, a religião evangélica assume uma posição de guarida para os fracos e oprimidos, a Igreja aparece como o único espaço de realização de identidades sociais do indivíduo que vive na pobreza e na marginalidade, e se estabelece uma relação de grande proximidade entre o pastor e o seguidor, que não acontece, por exemplo entre o padre e os católicos. Os pastores que são em muito maior número que os padres, assumem  a condição de "pai", como me disse uma pessoa evangélica que participava da minha entrevista, e a igreja é o espaço de salvação, não só eterna, mas também, terrena. Acredito que, nessa realidade se aplica bem a idéia marxiana de que "A religião é o ópio do povo".
E nessas realidade, o pastor assume uma posição central nas comunidades e seu poder de persuassão pode explicar o comportamento eleitoral dos indíduos.

A questão, assim, é muito mais social do que propriamente política. Tem a haver com o papel desempenhado por essas igrejas nas comunidades mais pobres e na identidade religiosa, social e política decorrente da sua presença nesses lugares. Os evangélicos de classe média não votam necessariamente em evangélicos, nem, tampouco aqueles situados nos estratos mais altos da sociedade.
A idéia de que evangélico vota em evangélico não pode ser vista como verdade absoluta pois isso ocorre em consequência das mediações sociais que se estabelece entre religiosidade e pobreza. O Rio de Janeiro(segundo a nossa pesquisa) é um exemplo claro do que afirmamos.

Tenho dito!