quinta-feira, 22 de março de 2012

Um novo momento para a Associação das Ex-alunas Dorotéias

A preservação da memória de uma cidade, de um país, de uma instituição, é uma condição essencial para o conhecimento da história dos lugares. Isso, no entanto, não é uma coisa fácil em realidades cuja história vai sendo aos poucos tragada pelo avanço desordenado daquilo que alguns chamam de “progresso”. Em Natal, no começo do século XX, algumas escolas católicas foram fundadas, ocupando um lugar  de destaque na educação de muitas gerações. Essas escolas aos poucos foram cedendo o lugar de prestígio para outras instituições de ensino, portadoras de novas propostas educacionais e preocupadas, sobretudo, com o ingresso mais rápido na universidade. E as novas gerações acabaram desconhecendo a importância de determinadas escolas para a história da cidade.
Recuperar essa memória é tarefa imprescindível, nos dias de hoje. E esse tem sido o papel das chamadas Associações de Ex-alunos. Estas, têm o objetivo de ser espaço de convivência de antigas gerações (como é bom reviver o passado para aqueles que já ultrapassaram a casa dos 40) mas, também, recuperar a história da escola, a sua importância para a comunidade e para a vida e formação de todos que  por ela passaram.
A minha vida escolar foi toda vivida no Colégio da Imaculada Conceição. Ali aprendi a gostar de ler, aprendi (e nunca esqueci) a fazer análise sintática e morfológica como já não se aprende hoje em dia. Ali fui iniciada nos esportes e na música, ali fiz amizades verdadeiras. Conheci os princípios da filosofia e da psicologia assim como fui introduzida na fé cristã, sem imposições.
Por tudo isso, tenho muito que agradecer a todos os que fizeram a história do Imaculada. E hoje tento retribuir tudo o que o colégio legou à minha formação, ajudando a reconstruir a Associação das Ex-alunas Dorotéias e conclamando todas as gerações que passaram pelo velho CIC a se engajarem na luta pelo seu reconhecimento e pela retomada de suas atividades.
Faço parte da diretoria que resolveu tomar para si essa responsabilidade. Junto com Maria Lúcia Santos Ferreira, Ana Tereza Paiva Navarro, Laís de Barros Furtado, Maria Dulce Vilar e Violande Câmara, convidamos a todos que se identificam com a história do colégio para conhecer a nossa Associação por ocasião de nossa posse, que acontecerá no dia 28 do corrente mês, às 18:30hs na sede da entidade, localizada à rua Antônio Basílio, 3517, Lagoa Nova (ao lado da faculdade de Odontologia).
Contamos com a sua presença!.  

quarta-feira, 7 de março de 2012

O sentido dos trotes

Semana passada, nos arredores da universidade, e nos principais sinais de trânsito de Capim Macio, uma cena, própria do início do ano letivo, era motivo de indignação dos que passavam. Jovens sujos de tinta e de  outras coisas não identificadas, eram obrigados a pedir dinheiro aos passantes, para financiar, depois, a farra dos "veteranos", satisfeitos com a humilhação imposta aos novos alunos. A isso se dá o nome de "trote".
O "trote" surgiu, sabe-se lá quando e onde, para ter o sentido de um rito de passagem.
Os ritos de passagem eram cerimônias existentes nas sociedades primitivas para marcar o fim de uma etapa da vida e o começo de outra, ou a passagem de uma condição, um grau hierárquico, à outro. Era uma espécie de iniciação, mas não tinha nunca, o sentido da humilhação. Pelo contrário, o iniciado tinha que demonstrar coragem, maturidade, condições para passar de uma etapa à outra.
A idéia da passagem permaneceu, mesmo nas civilizações modernas mas, com sentidos diferentes. E os ritos foram se modernizando e proliferando, principalmente em situações de difícil acesso. A universidade do início do século XX era uma instituição de elite, um mundo para poucos, muito poucos e, porisso, diante das dificuldades de acesso,  a sociedade foi criando certos ritos ou ações (raspar a cabeça dos vencedores, é um exemplo) para marcar a passagem dos jovens para uma nova etapa em suas vidas. O próprio ato de raspar a cabeça já se constituia no "trote", como nós o conhecemos.
Acontece que, o famoso "trote" foi se sofisticando e com o passar do tempo acabou assumindo características de crueldade e violência. Conhecemos inúmeros casos envolvendo problemas graves e, até morte. A violência da sociedade se reproduz no interior das universidades e verdadeiros atos de selvageria são praticados, impingindo medo aos alunos calouros. Na passagem do século XX para o XXI algumas práticas alternativas foram sendo usadas na realização do rito de passagem, apareceu a idéia do "trote solidário" (ainda adotado em poucos cursos) e as instituições foram assumindo o trote como um problema. Mas, ele permanece, principalmente nos chamados "cursos de elite". como os cursos de Medicina e Engenharia. O "trote" ainda permanece como uma oportunidade ímpar de exercício da violência e da humilhação contra os mais fracos e inseguros.
Atenção, senhores dirigentes universitários! É importante incentivar a brincadeira saudável, a festa, os atos de solidaridade, mas é hora de agir com mais rigor contra os absurdos.