segunda-feira, 28 de junho de 2021

O COVID e a Ciência.

A história da humanidade é marcada pela preponderância de um tipo de conhecimento, específico à cada momento. Passamos do conhecimento religioso (sobrenatural), dominante na sociedade primitiva, ao conhecimento filosófico, e, algum tempo depois, ao conhecimento científico, conhecimento baseado na observação, na busca de comprovação (evidências) e na formulação de leis e teorias. O advento do conhecimento científico provocou grandes conflitos na sociedade da idade média. As descobertas científicas eram consideradas heresias e podiam levar os seus autores até à fogueira.

A despeito de tudo isso, o mundo moderno teve o seu desenvolvimento graças ao avanço da ciência em todas as áreas, inclusive na área médica. O tratamento da saúde da população, passou dos rituais xamânicos (religiosos ), para a adoção de medicamentos e técnicas diagnósticas , cada vez mais aprimorados, no sentido da descoberta de caminhos para uma intervençao segura e para a cura das enfermidades. As ciências médicas  deram passos significativos nos momentos em que epidemias e doenças desconhecidas apareceram causando transtornos e mortes em grande escala. A descoberta da penicilina e o surgimento das vacinas, como antídotos eficientes , para o combate e a prevenção das "novas doenças", foram avanços signicativos nesse novo contexto. Os cientistas, passaram, assim, a ser reconhecidos e valorizados pela sociedade.

O inicio dos anos 20 do seculo 21, surpreendeu a sociedade global com o aparecimento de uma nova enfermidade, causada por um vírus, até então desconhecido, em suas novas variantes, que instalou uma pandemia no mundo como um todo. O coronavirus passou a ser o inimigo numero um das diferentes sociedades, porque para combatê-lo não havia remédios, protocolos médicos ou conhecimento suficiente para enfrentá-lo. Essa triste realidade levou a uma rotina médica de tentativas, acertos e erros, num primeiro momento, e o resultado foi a adoção de algumas medidas cuja utilização, foi considerada exitosa em alguns pacientes, passando a ser vista como solução para o problema. Medicamentos utilizados no tratamento de algumas patologias, como malária, foram utilizados e, imediatamente divulgados, como uma possível solução para o tratamento da COVID, embora estudos, no mundo inteiro, tenham negado a sua eficácia para o tratamento da doença.

Centros de pesquisa médica, em todo o mundo,  passaram a trabalhar na busca da descoberta de remédios eficazes no tratamento da nova doença, assim como de vacinas, que pudessem paralisar o avanço da mesma com a imunização da população. O mundo da ciência vem trabalhando incansavelmente, desde o início da pandemia, tentando encontrar antídotos eficazes contra esse mal e, diferentes vacinas começaram a ser produzidas. Tudo ainda está em fase de estudos e testes, embora algumas vacinas já possam ser testadas em grande escala para minorar o crescimento avassalador da COVID. A esperança da humanidade está no avanço da pesquisa científica, como esteve no passado, quando novas doenças apareceram, dizimando populações.

O que me parece estranho, nesse momento?
O aparecimento de um posicionamento anti-ciência que parece se espalhar, em países como o Brasil,em decorrência do posicionamento de pesquisadores e correntes médicas, que se posicionaram contra os tratamentos sem comprovação, utilizados por parte significativa dos profissionais médicos, sem formação específica em infectologia\epidemiologia. O debate foi politizado e virou bandeira de luta de correntes políticas em oposição. E no meio disso tudo, vimos crescer um discurso anti-ciência que deveria causar indignação a todos. Médicos e políticos assumindo posições, muitas vezes desrespeitosas, contra aqueles que dedicam a sua vida à pesquisa científica, tão necessária no atual momento da história. 

O discurso da prática versus a ciência é um falso discurso. Não existe prática sem conhecimento acumulado, sem experimentação científica que comprove a evidência dos caminhos seguros para o tratamento  das enfermidades. Hoje, até a chamada medicina alternativa tem chegado aos centros de estudos, na busca de seu aprimoramento. O discurso anti-ciência é um discurso vulgar, preconceituoso (desde a idade média), e sectário.
Vivemos na civilização e não podemos deixar que o discurso da barbárie sirva de talismã para muitos, inclusive para aqueles que governam. Prática e ciência têm que andar juntos para que a medicina continue sendo capaz de salvar vidas.

E aqui vai o meu aplauso para profissionais da universidade que, mesmo sendo médicos, fizeram opção pela investigação científica com o intuito de contribuir para a prática médica como um todo.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

500.000 pessoas mortas por COVID.

Não é hora de ir pras ruas


 
No último final de semana o país atingiu a incrível marca de 500.000 mortes, desde o inicio da pandemia em março do ano passado. Mais de meio milhão de familias brasileiras conheceram a triste experiência da dor e do sofrimento. Milhares de pessoas perderam entes queridos: pais, filhos, esposa(o), irmãos, primos, tios, avós, amigos...Familias inteiras sucumbiram à tragédia do desmoronamento total. E, novamente, pessoas foram às ruas, ignorando a orientação das autoridades sanitárias de "Fique em casa".
Em nome do protesto com o descaso do governo federal com a tragédia pandêmica; contra a atitude grotesca dos apoiadores do Senhor Presidente, minimizando o poder letal do coronavírus, forças de esquerda conclamaram a população para ir às ruas no último sábado. E, assim fazendo, se assemelharam àqueles contra os quais o protesto foi organizado. A diferença apontada pelos organizadores é que todos estariam de máscara (nem todos), ainda numa resposta coletiva ao presidente que sonha em abolir o uso de máscaras no Brasil. De resto, tudo era igual.

Olhando as cenas pela televisão, lembrei das palavras de José de Souza Martins, em live recente com alguns intelectuais brasileiros. Na sua participação ele falava ser o Brasil um "país sem esperança". Fiquei a pensar como ter esperança num país em que a política se assemelha a um jogo de futebol,  à lapinha de um pastoril, onde todos jogam\dançam da mesma forma, com o intuito de se sobrepujar aos seus concorrentes. 

Sou uma pessoa que trilhou parte de sua carreira acadêmica, estudando o tema dos movimentos sociais, da ação coletiva como um todo, acreditando ser esse o fermento mais legítimo das sociedades democráticas. Mas a ação coletiva pode se realizar de diferentes formas, conforme mudem os contextos e os motivos que impulsionam a ação. No Brasil, os partidos e grupos políticos parecem não terem entendido essa parte da lição. As manifestações se repetem, com o mesmo sentido e nos mesmos lugares, o que não desperta  a curiosidade da grande maioria da população que continua apática... 

No atual momento de dor, o repicar do sino das igrejas do país, numa mesma hora, o protesto silencioso da ONG que depositou flores na areia da praia de Copacabana, o silencio respeitoso dos estádios de futebol, expressa de forma muito mais significativa, a revolta de tantos... Muito mais que as aglomerações, os carros de som, os discursos inflamados contra os opositores.

Com toda a certeza, a pandemia, dentre outras coisas, exige que ressignifiquemos a política, assim como devemos ressignificar a vida...