domingo, 17 de fevereiro de 2013

Cheguei aos sessenta

Cheguei aos sessenta e, curiosamente, fiquei muito feliz com isso. Primeiro porque não me sinto velha (como eram velhas as pessoas de 60 anos da geração da minha mãe) e ainda acalento sonhos. Ainda tenho a pretensão juvenil de mudar o mundo, não mais fazendo a revolução social, mas transformando o meu modo de ser e influenciando mudanças naqueles que me rodeiam. A Yoga foi fundamental em minha vida. Amansou a fera que existia dentro de mim, me deu serenidade, me ajudou a olhar com mais complascência para os que estão ao meu redor. Me ensinou a importância do silêncio e isso tudo fez uma diferença enorme em minha vida. Foi fácil chegar até aqui? Não, mas também não foi tão difícil. 

A minha geração lutou por mudanças numa conjuntura que valorizava o novo. Não vivencianos nenhuma grande guerra e nem fomos vitimados por nenhuma grande catástrofe. Assistimos pela TV (preto e branca), o homem chegar à lua e o Brasil tricampeão do mundo; vivenciamos uma nova revolução tecnológica que nos trouxe o computador, a internet, o telefone celular e todas as novidades no campo da comunicação, que transormaram o mundo numa "aldeia global" (McLuhan); acompanhamos  o feito do Dr. Barnard no primeiro transplante de coração, no mundo; assistimos a chegada do primeiro bebê de proveta...Vivenciamos uma ditadura sem sofrer os horrores da geração anterior e ajudamos a reconstruir a democracia. Fui às ruas pedir pelas "Diretas Já", estive presente em movimentos sociais que dinamizaram a vida das cidades brasileiras nos anos 70, fui sindicalista, militante e outras cositas más..Viví uma Natal diferente, cheia de charme e de encantos. Brinquei carnavais de verdade nos blocos de minha juventude, fui atleta e até toquei bateria em banda de rock. Namorei muito, casei, tive filhas lindas que só me trouxeram alegria. O passar dos anos trouxe-me netos, e minha vida ficou mais doce.
No campo profissional me tornei professora e ajudei a formar algumas gerações de sociólogos, advogados, assistentes sociais, arquitetos e professores. Galguei todos os degraus da vida unversitária com o esforço do meu trabalho e me tornei professora titular da UFRN contrariando a vontade de muitos. 

Também tive grandes perdas que me trouxeram sofrimento. Perdí minha mãe que eu amava mais que tudo, perdí uma das mimhas primeiras netas, perdí amigos e parentes queridos. Tive momentos de dor intensa mas também de grandes alegrias.

Cheguei inteira aos sessenta anos. Sei que não tenho mais a força física da juventude (o joelho já me impede grandes aventuras) mas a sabedoria da maturidade vem transformando meus ideais, meus valores, minha concepção de mundo.
Sou sexagenária, sim. E sem traumas. Não faço apologia da velhice. Não acho que essa é a melhor idade, mas colho com alegria os frutos que plantei ao longo da minha vida: uma família linda, respeito profissional e saúde para continuar vivendo e sonhando com um mundo melhor.