segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Saudades dela



Se ela ainda estivesse entre nós, hoje seria dia de festa.
Mas, ela não está...
Ficou uma cadeira vazia em nossa casa e um vazio enorme no meu coração.
A dor da minha saudade ainda dói, machuca a minha alma...
Sei que nunca mais, nada será como antes.
Ninguém substitui o seu carinho, a sua paciência, o seu cuidado, pois há determinadas coisas que só MÃE faz, e mais ninguém...

sábado, 12 de novembro de 2011

A destruição



Passeio suburbano
               Mário Quintana

Encontrei uma menina
que me perguntou se era verdade que iam demolir
aquele belíssimo pé de figueira.
Não, ela não disse belíssimo...
Foi por uma questão de ritmo que acrescentei aqui
esse adjetivo inútil.
Feliz de quem vive ainda no mundo dos substantivos:
o resto é literatura...
Sorri-lhe cumplicemente
(e tristemente)
porque me lembro que em meio ao quintal lá de casa
havia uma paineira enorme
(ultrapassava em altura o primeiro andar de meu
quarto)
Quando florescia, era uma glória!
Talvez fosse ela que impediu que meus sonhos de
menino solitário
tenham sido todos em preto-e-branco.
Uma glória... Até que um dia
foi posta abaixo
simplesmente
porque prejudicava o desenvolvimento das árvores
frutíferas.
Ora, as árvores frutíferas!
Bem sabes, meninazinha, que os nossos olhos também
precisam de alimento

O Machadão era o nosso pé de figueira. No seu lugar: escombros, poeira, vazio. E ainda: interesses escusos, fetiches e muito dinheiro público escorrendo pelo ralo. 

A companhia dos livros

Oito dias no estaleiro. Uma dor ciática me deixou de cama durante uma semana. Imobilidade, inatividade, solidão dos doentes...Fui buscar a companhia dos livros e com eles viajei para Barcelona, Cabul, Nova Tork e Viena. Eles me fizeram companhia, me transportaram para esses lugares, me falaram de dores, alegrias, mistérios, encontros e desencontros.
Nessas viagens, encontrei, também Mário Quintana e me encantei com esse poema:

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

(Os degraus)

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A minha primeira menina

Hoje é o dia dela. Ela que chegou de mansinho num dia 04 de novembro de muitos anos atrás, prá me trazer alegria e me falar de felicidade. Primeira filha de um trio de meninas lindas. Com ela conhecí a beleza e os mistérios da maternidade. Com ela fui apresentada aos sabores e dissabores de ser mãe, através dela comecei a vislumbrar um outro mundo, de novas responsabilidades, mas, acima de tudo de novas emoções. Descobrí que a partir daquele dia, a minha vida se completava nela, que nós duas éramos uma só pessoa.
A minha menina cresceu. E foi se revelando: amiga, companheira e confidente. Foi se tornando uma jovem voluntariosa e cheia de energia. Cresceu alimentando sonhos, reproduzindo valores aprendidos na família, herdando muito daquilo que sua avó era, principalmente a sua disposição para lutar por aquilo que sonhava. Na vida, enfrentou dificuldades mas nunca desistiu. Viveu a esperança da maternidade, intensamente e tornou-se uma mãe exemplar.
Hoje, tenho um orgulho imenso de ser sua mãe.
Parabéns filha e obrigado por tudo...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A paz dos cemitérios

Antecipando o dia de Finados estive ontem visitando o túmulo de pessoas queridas que se foram e que deixaram marcas em mim. Fui em busca da "paz dos cemitérios", esperando um pouco de consolo para a saudade que dói fundo no meu coração. E levei flores para deixar mais bonitos os lugares onde elas repousaram para sempre. Estive no Cemitério "Morada da Paz" e depois no Cemitério de Nova Descoberta, antigamente chamado de cemitério da Saudade.
E nesse meu périplo por esses lugares santos, uma inquietação começou a tomar conta de mim e ameaçou se transformar em indignação.
O primeiro deles, uma empresa privada (a indústria da morte). Um campo bonito, um silêncio respeitoso e a abundância de flores (vendidas pela própria empresa), que além da limpeza e organização, transformam o lugar em um lugar de paz. Hoje haveria lá, além de missas, chuvas de pétalas, violinos tocando, serviços de informação.
O outro, um cemitério público, que se propunha moderno quando foi criado. Alí, um pouco da Babel: faxineiros de túmulos em profusão, para vender os seus serviços, de última hora; lixo por toda parte; túmulos abertos, numa visão deprimente do descaso com os mortos; e um intenso comércio ambulante de flores. Some-se a isso tudo, a insegurança. Onde as pessoas têm medo de portar bolsas ou carteiras, por medo de assalto, e podem cruzar com adolescentes e adultos, saindo do meio do mato, completamente drogados. Um cemitério sem paz.
Constatei naquele dia que a diferença entre o público e o privado se estabelece também em relação à morte. Que os cemitérios reproduzem na prática a estrutura desigual da sociedade. Que o serviço público nesse país, não peca na qualidade, apenas na educação e na saúde, mas também no trato com os velhos e na morte.
E não estou falando de um cemitério público na periferia da cidade. Estou falando de um cemitério situado num bairro de classe média onde repousam os restos mortais de figuras ilustres de nossa comunidade: artistas, intelectuais, políticos e empresários. Mas onde você não pode colocar flores na véspera do dia de finados pois elas podem ser roubadas para serem revendidas no dia, na feira da entrada.
Fico pensando no Cemitério do Bom Pastor, para onde vão os mais pobres, quando conseguem um lugar.
E me lembrei do meu horror quando fui a um sepultamento de uma pessoa querida no cemitério do Cajú, no Rio de Janeiro e o comparei ao São João Batista, onde são enterrados os cariocas bem nascidos
Essa é a sociedade em que vivemos, uma sociedade que guarda para os ricos ou remediados, um lugar de paz, para os pobres um lugar de medo e acima de tudo de desrespeito pelos que já se foram.
E como dizia a música: "tem que pagar prá nascer, tem que pagar prá viver, tem que pagar prá morrer..."
Isso, se você faz a opção de fazer tudo, com o mínimo de dignidade.