segunda-feira, 2 de maio de 2022

As perdas

Uma das coisas mais difíceis de se encarar quando já ultrapassamos o cabo da boa esperança (50 anos), é a partida das pessoas que, em nossa vida, foram referência para nós. Os avós, os nossos pais, os nossos tios, os nossos irmãos, primos e amigos. Aqueles que nos serviram de modelo, que nos deram lições através do exemplo, e aqueles que nos conquistaram pelo tanto de amor que dedicavam aos seus. É sempre muito triste nos despedirmos dos que amamos. A sensação da separação definitiva e a tristeza que nos invade, diante dessa realidade, parece tirar o nosso chão, na medida em que vai embora com as pessoas, a sua companhia, o seu apoio, o seu amor que era a liga que nos unia.

Lidei com perdas desde muito cedo. Perdi meu pai quando tinha apenas 03 anos, e pela idade que eu tinha na época, não experimentei a dor da perda, mas sim o vazio da figura paterna na estrutura familiar. Com o passar do tempo fui perdendo tios, primos, naquela sequência natural da vida. Os mais velhos, aos poucos, se despediam da vida.

Após os 50 anos, esse processo que parecia natural, começa a assumir uma nova conotação e a ter um sentido diferente na nossa estrutura emocional. Perdi minha mãe aos 56 anos e posso afirmar que, naquele dia, o meu mundo pareceu desabar. Me senti perdida, vivenciando a maior dor que já sentira na vida. Perdi amigos queridos que foram parte importante da minha história, da minha juventude...Perdi familiares queridos que eram parte da minha casa, da minha vida...Perdí a segunda mãe que a vida me deu, e assim segui perdendo minhas referências e pedaços da minha história.

A pandemia da COVID acelerou, de forma cruel, esse processo. Em apenas dois anos perdi um irmão, um compadre querido, perdi alunos, professores, amigos e conhecidos. Pedaço da minha geração começou a nos deixar...

Essa semana mais uma perda. Sem tempo de se despedir, partiu nossa prima Zélia, a última referência familiar que eu ainda tinha de Acari. Uma pessoa moldada na bondade, na simplicidade, no acolhimento e no cuidado com os outros. Aquela que fazia a melhor tapioca do mundo (pra ela não tinha parêa), e que amava receber a família com a fartura de uma mesa, tipicamente seridoense, e a preocupação de agradar a todas as preferências gastronômicas, dos adultos e das crianças. Não sei se, em Acari, havia alguém que não gostasse de Zélia, mas pela quantidade de pessoas que foram se despedir dela, na última quinta-feira, acredito que essa pessoa não existe.

Fica com Deus, Zélia! Por aqui teremos sempre histórias pra contar sobre você. Porque poucas pessoas ocupam um lugar tão especial em nossas memórias afetivas .