Cheguei aos sessenta e, curiosamente, fiquei muito feliz com isso. Primeiro porque não me sinto velha (como eram velhas as pessoas de 60 anos da geração da minha mãe) e ainda acalento sonhos. Ainda tenho a pretensão juvenil de mudar o mundo, não mais fazendo a revolução social, mas transformando o meu modo de ser e influenciando mudanças naqueles que me rodeiam. A Yoga foi fundamental em minha vida. Amansou a fera que existia dentro de mim, me deu serenidade, me ajudou a olhar com mais complascência para os que estão ao meu redor. Me ensinou a importância do silêncio e isso tudo fez uma diferença enorme em minha vida. Foi fácil chegar até aqui? Não, mas também não foi tão difícil.
A minha geração lutou por mudanças numa conjuntura que valorizava o novo. Não vivencianos nenhuma grande guerra e nem fomos vitimados por nenhuma grande catástrofe. Assistimos pela TV (preto e branca), o homem chegar à lua e o Brasil tricampeão do mundo; vivenciamos uma nova revolução tecnológica que nos trouxe o computador, a internet, o telefone celular e todas as novidades no campo da comunicação, que transormaram o mundo numa "aldeia global" (McLuhan); acompanhamos o feito do Dr. Barnard no primeiro transplante de coração, no mundo; assistimos a chegada do primeiro bebê de proveta...Vivenciamos uma ditadura sem sofrer os horrores da geração anterior e ajudamos a reconstruir a democracia. Fui às ruas pedir pelas "Diretas Já", estive presente em movimentos sociais que dinamizaram a vida das cidades brasileiras nos anos 70, fui sindicalista, militante e outras cositas más..Viví uma Natal diferente, cheia de charme e de encantos. Brinquei carnavais de verdade nos blocos de minha juventude, fui atleta e até toquei bateria em banda de rock. Namorei muito, casei, tive filhas lindas que só me trouxeram alegria. O passar dos anos trouxe-me netos, e minha vida ficou mais doce.
No campo profissional me tornei professora e ajudei a formar algumas gerações de sociólogos, advogados, assistentes sociais, arquitetos e professores. Galguei todos os degraus da vida unversitária com o esforço do meu trabalho e me tornei professora titular da UFRN contrariando a vontade de muitos.
Também tive grandes perdas que me trouxeram sofrimento. Perdí minha mãe que eu amava mais que tudo, perdí uma das mimhas primeiras netas, perdí amigos e parentes queridos. Tive momentos de dor intensa mas também de grandes alegrias.
Cheguei inteira aos sessenta anos. Sei que não tenho mais a força física da juventude (o joelho já me impede grandes aventuras) mas a sabedoria da maturidade vem transformando meus ideais, meus valores, minha concepção de mundo.
Sou sexagenária, sim. E sem traumas. Não faço apologia da velhice. Não acho que essa é a melhor idade, mas colho com alegria os frutos que plantei ao longo da minha vida: uma família linda, respeito profissional e saúde para continuar vivendo e sonhando com um mundo melhor.