A afirmação acima fazia referencia aos bailes e festas que, a despeito do aumento de mortes pelo COVID-19, teimam em acontecer no Brasil como um todo, envolvendo artistas famosos, empresários e moradores de condomínios de luxo, e que acabam replicando nos bailes funks da periferia das grandes cidades. Eventos protagonizados por aquela minoria brasileira que se considera diferente dos demais, pelo dinheiro que possui, pelo status que mantém na sociedade, pelo acesso aos espaços de poder e por todos os atributos que uma sociedade, atrasada e desigual, classifica as pessoas. E tudo isso em nome dos direitos do cidadão.
Em tempos de pandemia, nunca se falou tanto em direitos, como no momento em que vivemos. A tentativa de adoção de protocolos sanitários baseados no isolamento social, na obrigatoriedade do uso de máscaras e antissépticos tem, para alguns, o sentido de cerceamento das liberdades e do direito de ir e vir. Concepção que atinge, até, o presidente da república, quando incentiva as aglomerações e descumpre a obrigatoriedade do uso de máscaras.
Triste e equivocada concepção de cidadania, essa que se difunde no nosso país. Uma cidadania baseada na noção de direitos e nunca de deveres. Cidadania sem compromisso e responsabilidade social, sem cultura cívica e sem respeito pelo outro. Cidadania sem empatia, para usar uma expressão muito em voga, atualmente.
Por trás dessa conduta tão comum nos dias atuais, está a cultura política que predomina em nosso país, Está o país do "Você sabe com quem está falando?" expressão cunhada pelo antropólogo Roberto da Mata, para se referir à senha de entrada dos que se acham poderosos, para quebrar regras, exigências e protocolos existentes na sociedade. Regras que deveriam ser de todos, mas que não incluem os detentores de poder, de qualquer tipo. Detentores de nomes e sobrenomes que frequentam as colunas sociais, que circulam nos eventos políticos e "culturais"da cidade ou que representam o PIB local. Essa realidade é tão própria em nosso país que até os defensores da lei (que deveria servir para todos), costumam usar a senha do "Voce sabe com quem está falando", quando flagrados descumprindo normas e leis.
À isso se refere Angela Alonso, quando fala do desafio de civilizar os ricos em nosso país. Abolir a cultura da Casa Grande e Senzala é uma tarefa hercúlea, que a república, a industrialização, o avanço das leis na direção de uma cidadania plena, nao conseguiram realizar. A necessidade de reafirmar e validar a desigualdade, é parte de nossa cultura política, é um pilar que sustenta as instituições políticas e que se reproduz, de forma naturalizada ao longo da nossa história.
Triste realidade!!!!!!