Uma das grandes mudanças ocorridas na política brasileira nos últimos 30 anos diz respeito ao comportamento dos eleitores em relação à candidaturas. Como votam os eleitores, é a grande pergunta que estudiosos do comportamento eleitoral, marqueteiros e políticos costumam fazer, principalmente nos momentos que antecedem uma eleição.
Sabemos que a decisão do voto é resultado de muitos fatores, dentre
os quais os estudiosos destacam: as escolhas feitas no ambiente familiar, a
fidelidade em relação à candidatos ou partidos políticos, as promessas feitas pelos
candidatos durante o certame, a troca de favores, prometida ou já realizada,
entre candidatos, seus cabos eleitorais e eleitores, dentre outros motivos mais
específicos.
O desencanto com a política, que tem marcado a realidade
brasileira nos últimos anos tem, cada vez mais, dificultado o entendimento acerca
da decisão do voto, na medida em que cresce de forma exponencial, o
desinteresse da grande maioria da população pela escolha de seus representantes.
As famílias já não possuem uma identificação partidária sólida,
não existem mais, lideranças políticas fortes, que possam explicar a
identificação do eleitor e o seu consequente seguimento. Os grupos políticos
são cada vez mais frágeis e, por isso, movidos pelo oportunismo eleitoral do
momento, o que implica a não fidelidade do eleitor. Sobram, a troca de favores,
o voto interesseiro, sem qualquer substância realmente política, no bom sentido
da palavra.
No Rio Grande do Norte, por exemplo, a história polarizada dos
processos eleitorais, sempre levou à uma forte identificação dos eleitores por
um dos grupos ou partidos concorrentes. Aluízio X Dinarte; Alves X Maias, por exemplo, eram polarizações
fortes, que levavam à uma nítida opção política eleitoral, que se expressava no
uso de determinadas cores, em bandeiras e no vestuário do eleitor. Os
indivíduos se autodenominavam “gentinha”, “bacurau”, “arara”, “tucanos”, dentre
outras expressões, e a disputa entre esses grupos eram fonte de intrigas e
muito conflito entre os eleitores, principalmente nas pequenas cidades.
Hoje, tudo isso acabou! Os grupos políticos estão cada vez
mais frágeis, os partidos políticos perderam suas identidades e as grandes
lideranças, dotadas de carisma, de discurso e de projetos, já não estão mais
entre nós. Os eleitores ficaram órfãos e já não tem o menor interesse pela
política.
Diante
de tudo isso, um fato chama a atenção dos que estudam a política ou daqueles
que orientam candidaturas: a falta de memória do eleitor em relação às suas escolhas
nos processos eleitorais. As pesquisas demonstram que a grande maioria dos
eleitores não sabe em quem votou nas últimas eleições, principalmente na
eleição proporcional, o que torna o voto, algo transitório e o comportamento
eleitoral, extremamente volátil. Apenas os partidos de esquerda mantêm, ainda,
algum grau de fidelidade eleitoral, devido à história de militância que deu origem
a esses partidos.
O voto, assim, é, para a grande maioria, totalmente
desinteressado, e porque não dizer, descomprometido com as candidaturas, porque
descomprometida também é a postura dos candidatos em relação ao seu eleitorado
e aos problemas da sociedade.
A política então se torna, uma terra de ninguém, e os
processos eleitorais um verdadeiro vale tudo para conseguir uma vaga no sistema
de representação.
Quadro triste para uma democracia representativa cada vez mais frágil e mais distante da sociedade.