Semana passada, nos arredores da universidade, e nos principais sinais de trânsito de Capim Macio, uma cena, própria do início do ano letivo, era motivo de indignação dos que passavam. Jovens sujos de tinta e de outras coisas não identificadas, eram obrigados a pedir dinheiro aos passantes, para financiar, depois, a farra dos "veteranos", satisfeitos com a humilhação imposta aos novos alunos. A isso se dá o nome de "trote".
O "trote" surgiu, sabe-se lá quando e onde, para ter o sentido de um rito de passagem.
Os ritos de passagem eram cerimônias existentes nas sociedades primitivas para marcar o fim de uma etapa da vida e o começo de outra, ou a passagem de uma condição, um grau hierárquico, à outro. Era uma espécie de iniciação, mas não tinha nunca, o sentido da humilhação. Pelo contrário, o iniciado tinha que demonstrar coragem, maturidade, condições para passar de uma etapa à outra.
A idéia da passagem permaneceu, mesmo nas civilizações modernas mas, com sentidos diferentes. E os ritos foram se modernizando e proliferando, principalmente em situações de difícil acesso. A universidade do início do século XX era uma instituição de elite, um mundo para poucos, muito poucos e, porisso, diante das dificuldades de acesso, a sociedade foi criando certos ritos ou ações (raspar a cabeça dos vencedores, é um exemplo) para marcar a passagem dos jovens para uma nova etapa em suas vidas. O próprio ato de raspar a cabeça já se constituia no "trote", como nós o conhecemos.
Acontece que, o famoso "trote" foi se sofisticando e com o passar do tempo acabou assumindo características de crueldade e violência. Conhecemos inúmeros casos envolvendo problemas graves e, até morte. A violência da sociedade se reproduz no interior das universidades e verdadeiros atos de selvageria são praticados, impingindo medo aos alunos calouros. Na passagem do século XX para o XXI algumas práticas alternativas foram sendo usadas na realização do rito de passagem, apareceu a idéia do "trote solidário" (ainda adotado em poucos cursos) e as instituições foram assumindo o trote como um problema. Mas, ele permanece, principalmente nos chamados "cursos de elite". como os cursos de Medicina e Engenharia. O "trote" ainda permanece como uma oportunidade ímpar de exercício da violência e da humilhação contra os mais fracos e inseguros.
Atenção, senhores dirigentes universitários! É importante incentivar a brincadeira saudável, a festa, os atos de solidaridade, mas é hora de agir com mais rigor contra os absurdos.
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