Sempre fui uma pessoa de luta. Acho que essa foi a herança maior da minha mãe. Nunca fui de me acomodar com o curso dos acontecimentos e, a minha formação acadêmica, me condicionou a acreditar que nós podemos, sim, mudar a história.
Já enfrentei muitas batalhas. A palavra participação sempre fez parte da minha vivência cotidiana. Talvez porisso o meu principal tema de pesquisa na universidade, tenha sido , a política fora das instituições, os movimentos sociais, a política que nascia nas ruas, nos grupos, nas associações.
Viví a minha adolescência e parte da minha juventude durante o regime militar mas, a minha geração soube criar formas diferentes de expressão do seu descontentamento com o status quo ( a música, o teatro, e até o esporte). Com o início do processo de redemocratização do país, participei ativamente da construção do movimento docente na universidade; de campanhas como a "Diretas Já"; do processo de fortalecimento do Partido dos Trabalhadores. E, no cotiiano da vida comum, sempre estive do lado dos mais fracos, procurando apoiar as suas causas.
Na grande maioria das lutas que travei, encontrei interlocutores dispostos ao diálogo e a negociação. Afinal, vivíamos a reconstrução da democracia no país.
Hoje, na quietude da minha aposentadoria, decidi assumir mais uma causa: a defesa do colégio onde passei toda a minha vida estudantil, assumindo a presidência da associação de suas ex-alunas. Alguns meses depois, fomos surpreendidos com a decisão da Congregação das Irmãs Dorotéias de fechar aquele estabelecimento de ensino e, desde o momento da comunicação dessa decisão, assumí a luta dos que fazem o movimento "Eternamente CIC". Um movimento diferente de todos os demais que eu participei. Em muitos aspectos, mas, principalmente, na ausência de diálogo, na intolerância dos opositores ( as freiras que dirigem a província nordeste das Irmãs Dorotéias) e no desrespeito ao direito de expressão que professores, funcionários, pais e ex-alunos têm, diante da decisão da congregação de fechar o colégio.
Lamentável ver esse tipo de atitude em religiosas que pregam a misericórdia, a caridade, e a humildade, e que tiveram a sua formação espelhada no exemplo de Santa Paula Frassinetti (a fundadora da congregação).
No interior do Colégio Imaculada Conceição, impera o medo, sobretudo das irmãs que formam a comunidade de Natal. A grande maioria, em idade avançada, sofre com as incertezas em relação ao seu futuro e ao futuro da escola.
A experiência que fui adquirindo no decorrer da minha história aponta para a derrota de nossa luta. O CIC fechará e não há possibilidade de se discutir nehuma proposta alternativa. Mas, a nossa luta tem que continuar. Não podemos permitir que a especulação imobiliária destrua o prédio centenário. A nossa luta agora é pelo tombamento daquele prédio que, desde 1906 abriga o colégio e a comunidade religiosa. O prédio que abriga memórias e histórias de tantas gerações de norte-riograndenses. A luta agora é de toda a sociedade. Precisamos do apoio dos governantes, das instituições de cultura, da sociedade como um todo, para frear qualquer tentativa de enterrar, por completo, a memória de tão importante estabelecimento de ensino.
Essa tem sido uma luta diferente mas, ela tem que continuar...