Quadrilha infantil
Um grupo de sete crianças foi capturado pela Polícia Militar depois de tentar assaltar um hotel em São Paulo , na última segunda-feira. Cinco deles tinha até 11 anos de idade. Levados para o Conselho Tutelar da Vila Mariana, Zona Sul da cidade, promoveram uma baderma. Sob o efeito de alucinógenos, lançaram objetos contra os policiais. Após o quebra-quebra foram levados para abrigos municipais. Sim, essa é a realidade de milhares de crianças que perambulam pelas ruas das nossas cidades. Crianças que não viveram a infância merecida, pois não conheceram família, afeto, proteção. Cresceram como bichos na guerra urbana da sobrevivência, completamente sozinhas, desprovidas de qualquer valor à vida. Vida? Qual será o sentido da vida para essas crianças? Uma vez perguntei a uma dessas crianças se ela não tinha medo de morrer. E ela me disse que para ela, tanto fazia viver como morrer.
Viver é simplesmente ter que lutar para estar vivo - tentar matar a fome que dói, o medo das noites escuras, a solidão. Ir buscar a alegria momentânea da perda da consciência que a droga possibilita, esquecendo a fome e o medo. Experimentando uma sensação de euforia e poder que os transforma, aos olhos da sociedade, em pequenos monstros.
Eu já sentí medo de duas crianças nas ruas de São Paulo. E essa foi uma sensação estranha para mim. Afinal eles eram menores que eu, mais fracos físicamente e mais vulneráveis à ação das outras pessoas, principalmente a violência da polícia. Mas eu tive medo. Medo de um olhar distante e triste e de um pequeno canivete que ele portava.
Passado o medo o sentimento que restou foi a tristeza. Pensei nas minhas filhas que tudo tinham e naquelas ameaçadoras criaturas que faziam da violência a sua forma de sobrevivência.
Sentí raiva do meu país. E passei a desconfiar do Estatuto da Criança e do Adolescente que só protege a criança de castigos penais e não a protege do mau que o seu meio produz. E, fazendo isso, possibilita a reprodução do quadro de violência no qual essas crianças estão inseridas.
Triste realidade a das crianças que não tiveram o direito de ser crianças e que por isso, causam medo à sociedade...
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