segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Médicos cubanos

Durante a discussão do Programa Mais Médicos mantive-me em estado de observação chegando a afirmar, em uma ocasião, que só o tempo iria mostrar os acertos e os erros desse programa. Não concordava com a reação dos médicos brasileiros à contratação de estrangeiros mas, ao mesmo tempo, mantinha-me cética quanto à qualificação desses profissionais. Certamente entre eles há bons profissionais mas seria muito bom se soubéssemos as razões que os fizeram aderir ao programa. No meio de tudo, a contratação de médicos cubanos com a intervenção da Organização Panamericana de Saúde, em condições um tanto quanto estranhas para a nossa realidade. Uma remuneração pessoal, diferente da dos demais profissionais (valor bem menor), e uma remuneração ao governo do país de origem. 

Conheço pessoas que foram alunos de medicina em Cuba assim como conhecí jovens cubanos que foram meus alunos em uma universidade americana. Sei que, diante da precariedade das condições de vida no país, os jovens e os não tão jovens, sonham com uma vida de mais conforto e mais liberdade. Os meus alunos foram atletas olímpicos que "desertaram" das delegações e pediram asilo político em algumas embaixadas. Os médicos que aqui chegaram, (muitos já passaram por outros países) certamente não estavam somente movidos pelo sentido humanitário do serviço a ser prestado a população mas também pela oportunidade de desfrutar de condições de vida diferentes. 

A denúncia da médica cubana que deu origem a diferentes interpretações, é o resultado que deveria ser esperado pelos responsáveis pelo programa. A mim não interessa o fato de ela ter ou não ter um namorado (marido) nos Estados Unidos e usar o programa para realizar o desejo de juntar-se à ele. O fato é que o programa dá chances reais para que isso aconteça. É ingenuidade pensar que os jovens cubanos não querem sair do país, não querem ter uma vida de mais liberdade. Eles querem, sim! É preciso pensar também que os ideais revolucionários vêm se desgastando com o tempo e que podem não fazer parte da forma de pensar dos jovens médicos que aqui chegaram. A forma de remunerar o trabalho desses profissionais também é por demais complicada diante desse contexto. O governo cubano está sendo remunerado por trabalho realizado por "cidadãos" cubanos, que não estão a serviço da pátria mais a serviço daqueles que precisam do seu conhecimento médico para sanar os seus problemas. Longe da pátria de origem, é muito natural que reações à esse tipo de acordo entre países seja questionado. A diferença de remuneração entre médicos estrangeiros pode, naturalmente, gerar insatisfação por parte daqueles que podem se sentir discriminados.

Infelizmente, as convicções ideológicas daqueles que tomaram parte na negociação do programa podem não ter rebatimento na realidade daquele país e isso é um problema que pode levar ao fracasso do mesmo. No estudo de políticas públicas isso se chama de "efeitos perversos" da política.

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