terça-feira, 1 de março de 2016

A casa que não é do povo...

Resolvi quebrar o silêncio.

Os últimos dias foram marcados por uma indignação generalizada pela divulgação do quadro de funcionários da Assembléia Legislativa de nosso estado. Vinte e quatro deputados formam aquela casa e para auxiliá-los no "serviço legislativo" existem 379 funcionários efetivos, da casa, e quase 3.000 cargos comissionados, alguns com altíssimos salários para a realidade do nosso pobre Rio Grande do Norte. O custo de manutenção da assembléia é um dos mais altos do país e incompatível com a realidade econômica de um estado que precisa sacar recursos da previdência pública para pagar a folha de funcionários. 

O acesso fácil ao Portal da Transparência da assembléia possibilitou, finalmente, ao cidadão comum, o conhecimento de informações que até bem pouco tempo eram guardadas em absoluto sigilo. Conquistas da democracia.... Afinal era muito estranho que o cidadão não tivesse acesso ao que acontece na casa que lhe representa. Para alguns, ver seu salário divulgado, para a sociedade como um todo, pode ser motivo de constrangimento. Esqueceram de dizer a essas pessoas que os ofícios públicos devem ter o controle da sociedade se vivemos numa democracia. E aqueles que almejam um emprego público devem concordar com esse princípio democrático.

O fato é que, na longa lista dos servidores do legislativo potiguar pode-se ver de tudo. Servidores que trabalham, que sustentam com o seu esforço o funcionamento da casa e uma grande maioria que não trabalha e que foi alçado à condição de "servidor público" por ser amigo ou filho de alguém ou ter algum tipo de liderança (por que não dizer cabo eleitoral?) nos territórios eleitorais do estado.

Nessa longa lista existem pessoas cuja situação financeira é esbanjada nas redes sociais e nas colunas de jornal destinadas às frivolidades do "hight society" e que, certamente, não frequentam as dependências do legislativo. Também existem jornalistas que, na nossa realidade política, são premiados com cargos públicos e mesadas mensais para defender, da crítica da imprensa, os seus padrinhos.Mas existem também aqueles que em troca de uma merreca qualquer, emprestam seus nomes e repassam a maior parte do que ganham na assembléia para deputados que, por sua vez, repassam, direta ou indiretamente para prefeitos ou afins..

Muito se escreveu sobre isso nos últimos dias mas, o que mais me chama a atenção, é que a crítica e o julgamento da sociedade está voltada, sobretudo, para aqueles que têm seus nomes na lista. Fantasmas ou não..E tem sido esquecida ou relegada a um segundo plano a verdadeira razão para a existência desse absurdo: o esquema de patronagem que faz parte da lógica de funcionamento do parlamento, não só no RN mas no Brasil como um todo. Patronagem, sim! Aquele velho esquema de troca de favores que formata a cultura política institucional brasileira. O emprego público em troca de apoio, de todos os tipos, incluindo até o pagamento dos cabos eleitorais nos municípios onde os deputados têm votação significativa. O emprego na assembléia é moeda política, objeto de troca dos que têm assento naquela casa.

Por que o silêncio dos deputados? Onde estão aqueles que supúnhamos fazer a diferença em termos de atitudes e valores políticos, já que os "macacos velhos" não têm mais o que dar, há não ser se apropriar das vantagens que lhe são oferecidas? 

O povo merece uma explicação... 
A sua casa está sendo saqueada...
Ou será que aquela casa não é mesmo a casa do povo?


2 comentários:

  1. Eu sou uma voz dentre milhares de menos favorecidos. Esbravejar na minha condição de desempregado e concursando nunca chamado, que luta por alimentar sua prole? Gritar pelas ruas do interior onde moro palavras de ordem contra os filhos de prefeitos e políticos, chamando-os de “fantasmas” que recebem o que não lhes é devido?
    A culpa é minha também. Talvez mais minha e sua do que dos que estão legislando em nosso estado. Nós anuímos para o exercício desses legisladores.
    A corrupção está entranhada nas estruturas dos três poderes. O jeitinho brasileiro de tirar vantagem alimenta o modelo político que sempre houve, e, que hoje vemos e cremos que não é apenas uma suposição, mas uma realidade. Quando entregamos veículos a filhos menores ou não habilitados, estamos alimentando o sistema. Quando ficamos a favor de nossos filhos para livrar-lhes da culpa que lhes é devida, também ficamos do lado errado.
    Hipocrisia de lado, temos que buscar o justo, o honesto, o digno. Mesmo que isto resulte nas nossas geladeiras vazias. O que levaremos deste mundo é tão somente nossas ações. Esta a razão de fazermos as escolhas certas.
    Eu ainda acredito no Brasil e no Rio Grande do Norte.

    ResponderExcluir
  2. Parabéns, Ilzinha por suas lúcidas palavras!!!!👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏Mas não nos esqueçamos que além de todas essas aberrações, a ALRN acolhe muitos funcionários públicos, colocados à disposicao e que nada fazem. Ganham sem trabalhar, como os inúmeros apadrinhados com cargos comissionados e que tb não trabalham.
    Isso é enriquecimento ilícito, desvio de recurso público, além de ser aético, imoral e .

    ResponderExcluir