sábado, 12 de novembro de 2011

A destruição



Passeio suburbano
               Mário Quintana

Encontrei uma menina
que me perguntou se era verdade que iam demolir
aquele belíssimo pé de figueira.
Não, ela não disse belíssimo...
Foi por uma questão de ritmo que acrescentei aqui
esse adjetivo inútil.
Feliz de quem vive ainda no mundo dos substantivos:
o resto é literatura...
Sorri-lhe cumplicemente
(e tristemente)
porque me lembro que em meio ao quintal lá de casa
havia uma paineira enorme
(ultrapassava em altura o primeiro andar de meu
quarto)
Quando florescia, era uma glória!
Talvez fosse ela que impediu que meus sonhos de
menino solitário
tenham sido todos em preto-e-branco.
Uma glória... Até que um dia
foi posta abaixo
simplesmente
porque prejudicava o desenvolvimento das árvores
frutíferas.
Ora, as árvores frutíferas!
Bem sabes, meninazinha, que os nossos olhos também
precisam de alimento

O Machadão era o nosso pé de figueira. No seu lugar: escombros, poeira, vazio. E ainda: interesses escusos, fetiches e muito dinheiro público escorrendo pelo ralo. 

Um comentário:

  1. É verdade minha irmã!...Quando vejo a destruição do Machadão e Machadinho tenho uma tristeza grande. Afinal, foram sonhos desfeitos, trabalho infrutífero e mais uma vez o dinheiro público derramado...um verdadeiro prejuízo para a cidade, para o Estado. Que pena!...Enquanto isto, o bolso dos políticos abarrotado de dinheiro...um luxo só e os eleitores continuam a sofrer, a passar fome. Falta tudo: educação, saúde, segurança, responsabilidade e dignidade

    ResponderExcluir