domingo, 24 de abril de 2011

Semana Santa no meu sertão

Sim, esse ano resolvemos ir ao Seridó, na semana santa, como fizemos tantas vezes em nossas vidas. Afinal, esse é o tempo do inverno no meu sertão, quando não é ano de seca. Tudo estava verde! A água pontilhava aquí e alí nos pequenos açudes e barreiros. O umbú, a pinha e o milho verde enchiam as barraquinhas na Serra do Doutor, num bom sinal de inverno. Umbús graúdos, inchados e eu lembrando da minha infância/juventude, quando já saíamos de Natal para Acarí, com faca e sal para degustarmos os umbús, da serra até lá. Os umbús que sobravam eram transformados em umbuzada, sobremesa de  nossa primeira refeição em nosso destino.
O tempo estava bonito no meu Seridó. As nuvens pesadas, a chuva caindo insistentemente, as serras cobertas com um pouco de névoa, os trovões...Tudo lembrava um tempo que não volta mais...
A Igreja estava cheia, todos os dias para a celebração do ritual da semana santa, numa clara demonstração de fé do povo simples do meu sertão. A última ceia, com o ritual do lava-pés; a Paixão de Nosso Senhor, com a procissão do Senhor morto pelas ruas; a adoração da cruz...As mesmas leituras, os mesmos hinos, as pessoas ocupando os mesmos lugares na Igreja...
Sim, em Acarí havia lugares marcados na Igreja. Algumas famílias pagavam uma certa quantia a paróquia para ocuparem, nas celebrações, um determinado banco, onde ficava escrito o nome do chefe da família. Isso num passado bem distante....Mas, o fato é que alguns lugares ficaram marcados para sempre, na tradição do lugar.
Uma coisa curiosa me aconteceu. Todas as vezes que fui à Igreja, as pessoas me ofereceram um lugar bem na área onde se localizava o banco da minha família, há muitos anos atrás. Pura coincidência? Não sei. O fato é que o passado voltava, as lembranças teimavam em distrair a minha atenção, e eu me via menina, ao lado da minha mãe, naquele lugar, de uma forma meio mágica.
A despeito da beleza do inverno no meu Seridó, a semana santa me trouxe uma certa melancolia, e uma imensa saudade, de um tempo que não volta mais, pois as pessoas mais queridas já não estavam lá...    

Um comentário:

  1. Mãe, adorei o texto. Ele tem um ar de nostalgia, mas me soou confortante... Amo muito!

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