terça-feira, 2 de agosto de 2011

Saudades de Têca

Hoje é dia de lembrar uma pessoa querida, uma pessoa muito especial..
Uma pessoa que, para mim, foi exemplo de sentimentos e atitudes muito raras nos dias de hoje. Por isso eu a amava tanto...a admirava tanto...
Uma pessoa que era o maior exemplo de humildade que eu já conhecí. Que não tinha vaidades, não gostava de privilégios, embora tivesse uma situação econômica que lhe possibilitasse desfrutar comodidades e regalias. Não, isso prá Teca não tinha qualquer sentido ou importância. Gostava de gente, mas, sobretudo, da gente simples do seu Acarí. Por isso preferia viajar para Natal, nos ônibus da linha, embora na sua casa não faltassem carros nem motoristas. Gostava do anonimato, de está no meio do povo, de ouvir as estórias das pessoas simples, de se sentir igual aquelas pessoas, sem qualquer distinção de condição econômica ou posição social...Por isso sua casa estava sempre aberta. E qualquer cidadão de Acarí sabia que podia nela entrar, sem constrangimentos, pois ela não sabia o que era diferença social.
Tinha o dom do acolhimento (certamente herdado da família de sua mãe) tão raro nos dias de hoje.
À sua humildade, somava-se o nobre sentimento da solidariedade. Amenizar o sofrimento dos outros era para ela uma missão de vida. O seu exemplo de doação aos velhos é difícil de ser esquecido, pois a história do abrigo de velhos de Acarí, é um pouco a sua história. Alí era a sua segunda casa e durante muitos anos, era do seu trabalho para angariar recursos, que dependia o sustento daquela instituição. Diariamente estava lá, junto aos seus velhos,conversando com todos e fiscalizando tudo, para que nada faltasse. Quantas feiras do abrigo foram pagas com o seu proprio dinheiro, sem que ninguém soubesse...Não, ela não era de fazer publicidade de sua bondade. Vaidade era uma coisa que não combinava com ela...Também não tinha vergonha de pedir ajuda, para o abrigo ou para a Igreja, no tempo da festa de Nossa Senhora da Guia.Vendia bolos, fazia rifa, organizava festas (onde permanecia na bilheteria), inventava mil estratégias para engordar, ora o cofrinho do abrigo, ora a tesouraria da festa da padroeira, que funcionava na sua casa. E ficava feliz quando via o resultado de seus esforços serem compensados.
Tinha uma grande paixão: a política, embora nunca tenha exercido qualquer mandato político. Mesmo assim, era uma líder nata ( herança maior de seu pai, Cipriano Pereira, antigo prefeito de sua cidade) e toda decisão do PMDB em Acarí, passava certamente pela sua casa.
A sua vida foi talhada na pedra bruta do sofrimento, desde tenra idade, quando perdeu a sua mãe. Sofrimento que lhe acompanhou pela vida a fora, até o fim dos seus dias. Sofrimento que, no entanto, ela sublimava tentando diminuir o sofrimento dos outros, pois era uma mulher forte, apesar de tudo mas,também, uma mulher de fé.
Penso nela quando leio o texto de Coríntios, sobre a caridade
A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Ela se foi num dia 02 de agosto. Naquele ano, como lembrou Hudson no dia do seu falecimento, a festa de agosto começou mais cedo, pois Teca havia sido alçada ao trono dos justos e lá certamente conquistou a paz e a liberdade que tanto procurou.
Acarí precisa fazer justiça à essa mulher. O seu nome deveria estar gravado na fachada do abrigo de velhos, para que ela nunca fosse esquecida pelos seus conterrâneos, para que a sua bondade pudesse ficar gravada na história da cidade...
É o meu apelo. Um apelo de amor, de admiração e reconhecimento...

2 comentários:

  1. Mãe, o texto tá lindo...
    Parabéns pela descrição tão fiel.
    Te amo!

    ResponderExcluir
  2. Mãe, tbm me emocionei muito com esse post, porque parecia que durante a sua descrição eu estava vendo Têca...Me lembro da alegria, da simplicidade, da doação de Têca para as coisas que realmente importavam. Como na presença dela eram animados os almoços da festa em sua casa (nos sentíamos completamente a vontade, porque acho que Têca se parecia muito conosco). Lembro dela, de Zélia, de tia Edna, lhe puxando pelo braço para contar alguma novidade do Zé ou da Maria, filho de não sei quem... E admiro sobretudo a serenidade com que ela carregava a sua cruz! Concordo que Acarí deveria homenagear àquela que dedicou a sua vida pela cidade e pelo povo de Acari. Mas a justiça...Essa certamente ela já alcançou, afinal a justiça divina é a única que não falha nunca!!!! Beijos!

    ResponderExcluir