sábado, 30 de julho de 2011

Tempo de festa no meu Seridó



O tempo das chuvas coincide, no Seridó, com as festas dos santos padroeiros. São João em Cerro Corá, Sant'ana em Currais Novos e Caicó, Nossa Senhora da Guia, em Acarí. Não sei se as escolhas dos padroeiros, feitas ainda no século XIX, foram propositais, no sentido de que, quando havia chuva, era preciso agradecer e celebrar.  Tempo de chuvas, tempo de colheita (em todos os sentidos), tempo de fartura, tempo de alegria.
Sim, as festas do Seridó são sempre momentos de grande alegria.
O bom seridoense volta a sua terra na festa da padroeira, não somente movido pela forte marca da religiosidade em nossa cultura, mas também pela necessidade de rencontrar o seu passado e fazê-lo presente por alguns momentos. E revive o passado.
Nas novenas, sempre acompanhadas de muita música - fazendo-nos relembrar a figura bonita do maestro Felinto Lúcio, autor de todos os hinos de padroeira da região. Cantar o hino de Sant'ana ou de Nossa Senhora da Guia, traz emoção incontida para todos que têm suas raízes fincadas nesses lugares.  Em Acarí, como esquecer, a figura elegante de seu Felinto, regendo o coral e a inconfundível voz de Dona Amália, puxando os demais cantores?
Depois da novena, a queima de fogos que, sem ser grandiosa, ecoa na cordilheira que envolve a cidade e enche de encanto a todos os presentes. Momentos de magia e de beleza nos céus do meu sertão...
O encontro nas barracas montadas na praça principal, com música, abraços, e muitas estórias rolando no meio do povo. É a hora do leilão. Quem dá mais por esse garrote, doado por Geraldo Galvão? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três... Quem dá mais por esse carneiro, vindo das Imburanas de seu Balá? Quem dá mais por esse frango assado, doado por Zélia de Demétrio? Quem dá mais por esse bolo gostoso, feito por Edith de Brabo? E a brincadeira vai ganhando fôlego e todos querem participar.
Revive o passado na missa das 10hs (missa solene), no dia da festa. Ocasião de gala, onde todos vestem as suas melhores roupas para festejar a mãe Daguia. Missa concelebrada pelo bispo de Caicó e os padres das cidades vizinhas. No fim da missa, novamente a emoção do hino da padroeira.
Nossa Senhora da Guia, padroeira de Acarí
Nossos passos alumia, são teus os filhos daquí...
Olhando ao redor podemos ver as lágrimas descendo em rostos saudosos, na lembrança dos que já não estão mais alí e de um passado que só volta nesses momentos, tornando-os mágicos.

A banda de música começa a tocar e todos descem a ladeira acompanhando os dobrados, sentindo-se, novamente meninos...
A tarde, um momento especial.
"Olha lá vai passando a procissão
Se arrastando que nem cobra pelo chão.."
E lá estão todos novamente, nas ruas da cidade, saudando a senhora Daguia, num percurso lento, fervoroso, onde tudo se vê. As filhas de Maria, o Apostolado da Oração, os padres, as mulheres de branco, os pagadores de promessa (descalços, carregando pedras na cabeça..)e o povo (de Acarí e das redondezas), numa corrente humana que torna a cena inesquecível.
Pronto, o acariense recarregou as baterias para o ano todo. É hora de voltar prá casa. Alguns vêm de longe (meu irmão Humberto vem do Rio todos os anos), mas o sacrifício valeu a pena pela energia da fé e do reencontro...

Viva Nossa Senhora da Guia!

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