quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A campanha política do medo

Passadas as eleições, esfriados os ânimos, atrevo-me a refletir um pouco sobre o que vivenciamos durante o período eleitoral, o mais atípico período eleitoral já vivido no Brasil. Por que afirmo isso? Porque esse foi um tempo de intensa competição eleitoral, um tempo que nos fez acreditar estarmos vivendo uma dinâmica política realmente democrática. Afinal, como afirmou um renomado cientista política europeu, a incerteza é a marca maior da democracia - "Ama a incerteza e serás democrático', e ninguém pode duvidar da incerteza que marcou o processo eleitoral até os últimos momentos.

No entanto, a nossa (ou a minha?) euforia democrática, não combinou com a forma como os partidos políticos tentaram aumentar o seu capital eleitoral: semeando o medo no eleitorado. Na ausência de um debate propositivo acerca do que cada um pretendia com o discurso mudancista (todos queriam mudanças, inclusive a presidente), a estratégia para ganhar o eleitor foi sempre a de destruir o outro, e na grande maioria das vezes disseminando medo no eleitorado mais vulnerável: o eleitor mais pobre. Um medo sórdido, irreal, que me fez lembrar o medo dos comunistas quando eu era criança: "Comunista come criancinha..." Um medo difundido pelos conservadores durante a primeira campanha eleitoral de Lula para presidente, quando difundia-se a idéia de que caso o PT chegasse ao poder, as pessoas teriam seus bens (fogão, geladeira, etc) confiscados pelo governo.
Nada me parecia mais vulgar do que essa forma de fazer política, disseminando ameaças acerca da possível vitória do outro. 

E essa foi a grande novidade dessa campanha eleitoral. Nada me chocou mais do que aquela propaganda do PT, contra a candidata Marina Silva, que tinha imagens de banqueiros como seres misteriosos e maus, seguido de imagens de uma família pobre na hora da refeição, vendo a comida sumir de seus pratos. A mensagem não explicitada era a de que, caso Marina fosse eleita, a comida ia sumir do prato do pobre, como iriam sumir da casa dos pobres o fogão ou a geladeira, comprada a tanto custo, caso Lula fosse eleito presidente.
O PT, vergonhosamente usou do mesmo recurso pérfido de seus adversários alguns anos atrás. E as mensagens de medo não pararam por aí: a campanha do medo usou de difamação e calúnias para construir o perfil dos adversários, num jogo de vale tudo. E a imagem dos candidatos esteve sempre desfocada por não ter rebatimento em espelhos que refletissem a verdade. O objetivo não era simplesmente ganhar a eleição mas, sobretudo, destruir moralmente o adversário, num comportamento muito pouco republicano. E esse discurso era dirigido, sim, ao cidadão menos informado e, por isso, vulnerável à todo tipo de afirmação que a ele fosse dirigida na campanha eleitoral. Inclua-se nesse eleitorado menos informado, não somente o pobre do nordeste (com muito pouco acesso à informação) mas também  uma grande parcela da classe média que só é informado pelo noticiário da televisão. Que não lê jornais, que não acompanha o debate político, que não consegue ver além do seu mundinho privado.

É, falta muito! Falta muito para a democracia brasileira se consolidar pois, a despeito de todos os avanços, os que disputam o poder a qualquer custo não costumam se guiar por regras ou instituições democráticas. O povo tem feito a sua parte, os políticos não...

domingo, 2 de novembro de 2014

E agora José?

E no aniversário do poeta Carlos Drumond de Andrade, aquela poesia que, para mim, é sua obra prima:

E agora José?

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
 

E agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou...

E agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.

José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!

José, para onde?

Um dia para pensar nas cadeiras vazias


Hoje é um dia de melancolia para mim. O dia da Saudade. Um dia que me faz lembrar de cadeiras vazias...Lugares antes ocupados por pessoas amadas que se foram e não deixaram substitutos. Como esquecer da cadeira que ficou vazia em nossa casa com a partida de mamãe para o reino do Pai? Aquele lugar vazio não é apenas um lugar físico ( a cabeceira da mesa) mas é, sobretudo um lugar afetivo: o lugar do amor incondicional, o lugar do equilíbrio, o lugar da sensatez, o lugar da verdadeira miseridórdia, o lugar do acolhimento...Um lugar que nenhum de nós será capaz de ocupar, pois nos falta os atributos para tanto. A cadeira ficará vazia, embora a tristeza já não seja tão forte, ainda que teime em voltar em dias como hoje. Ficou uma saudade! Uma saudade que ainda dói quando me deparo com a cadeira vazia...

Uma saudade também de pessoas que ocuparam lugares em outros espaços: os espaços da grande família, o espaço das amizades, da vizinhança, do trabalho...
Saudades de Têca, de Beth, de Branca, de Tia Arciria, de D. Flora...
Saudades de Edda, de Franklin, de Bebeth, de Paulinho Limarujo ...
Saudades de muitos que passaram em minha vida e, nela, ocuparam lugares, hoje vazios...

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O triste começo do nosso futuro governador

Chocada! É isso, fiquei chocada ao ler nos jornais da cidade as primeiras declarações de "intenções de governo" por parte do governador eleito para o Rio Grande do Norte, Robinson Faria. O despreparo do nosso futuro governante é estarrecedor, principalmente quando fala da questão social. 
Todos sabem que essa é a minha área de trabalho e talvez, por isso, as suas declarações tenham tocado fundo na minha capacidade de indignação.

O futuro governador diz textualmente   que fará um governo "50% social" e continua: "Eu me emociono muito com o social. Vou abraçar essa vertente. Vou fazer um governo humanitário. Nosso estado, apesar do Bolsa Família, ainda tem 300.000 pessoas (sic) que moram abaixo da linha da pobreza. Vou fazer programas sociais para essas pessoas".  E conclui dizendo que a sua esposa atuará como voluntária nos programas sociais. E acrescenta: "Ela é uma pessoa muito religiosa e atuará como voluntária nesses projetos.

Gente! A despeito do que está escrito na Constituição da República Brasileira de 1988, que declara a Assistência Social um dever de Estado, e portanto um direito social, o nosso futuro governador expressa, no ano de 2014, uma visão de política social que data do século XIX, que remete a caridade religiosa, e à filantropia, e por que não dizer (em termos políticos) à troca de favores e ao clientelismo barato.  A cultura política da dádiva e não do direito.

Meu caro governador, na formação do seu secretariado, procure pessoas que pensem diferente do Senhor para tratar da política social do seu governo. O social (entendido pelo senhor como pobreza), não deve ser algo que emociona, mas que envergonha. Não tenha pena do pobre, governador, tenha respeito. O povo pobre do nosso estado não precisa da caridade religiosa dos governantes. A Igreja já faz isso, na medida de suas condições. O povo precisa de escola de qualidade, o povo sonha em ter atendimento médico digno nos hospitais em seus momentos de dor, o povo quer descansar seu corpo em segurança sem precisar estar amedrontado com a troca de tiros nos morros e favelas, o povo quer trabalho e, acima de tudo dignidade. Isso é social, governador...

Meus caros amigos! O nosso estado vive uma dramática situação econômica e social deixada pelo governo que sai, cujo vice governador era o senhor Robinson Faria. As palavras inicias do futuro governante são um claro sinal de alarme. Estejamos atentos!

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A realidade da saúde em nosso país, a partir dos investimentos do governo federal




Olhando os dados abaixo podemos avaliar a importância dada pelo Governo Federal à área da saúde.
Os dados nos fazem entender a crise do setor hospitalar brasileiro, a falta de estrutura e as péssimas condições de trabalho. Mais uma vez é necessário alertar à população que aumentar a quantidade de médicos no atendimento à população não vai resolver o problema. O pagamento desses "Mais médicos" é um gasto irrelevante se compararmos a necessidade de estruturarmos adequadamente o setor. Observem a informação sobre 2012. Isso se chama ineficiência de gestão.


Investimentos da Saúde
Vamos refletir sobre isso!!!!!

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

A "brincadeira" com os dados

Caros amigos;

Sou pesquisadora por paixão assim como fui professora por vocação, embora hoje isso possa parecer fora de moda. Ultimamente tenho me sentido muito incomodada com o "falseamento" das informações estatísticas que avaliam as políticas públicas. Assim como com a tentativa de não publicar resultados que não interessam a A ou B. Estou cansada de ver e ouvir nos debates eleitorais ou em publicações no facebook, informações que não condizem com a realidade. Cada partido produz os dados que lhe interessam e divulga como verdade. Comecemos pela educação. Os dados que avaliam a Educação Básica em nosso país, são dados produzidos pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos Anísio Teixeira, órgão do MEC que avalia esse nível da educação. Fui ao site do INEP pesquisar o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de alguns estados brasileiros nos últimos anos e o resultado está nessa tabelinha abaixo que construí às pressas:



ANOS
SP
RJ
MG
PR
SC
RS
BA
PE
2007
4.8
4.1
4.6
4.8
4.7
4.5
3.2
3.3
2009
5.3
4.4
5.5
5.3
5.1
4.7
3.5
3.7
2011
5.4
4.8
5.8
5.4
5.7
5.1
3.9
3.9
2013
5.8
4.9
5.9
5.8
5.9
5.4
3.9
4.1








Política séria se faz com debate sério e com verdades. 
Que cada partido mostre o que tem de bom sem negar as realizações do outro. Isso é respeito ao eleitor.

terça-feira, 8 de abril de 2014

História do meu desencanto

Sou movida a sonhos e projetos. Persigo os meus sonhos mesmo quando eles parecem ser apenas sonhos. Digo muito que sou uma militante confessa de causas perdidas, mas, costumo ir até o fim nas minhas lutas, grandes ou pequenas. Sonho com um Brasil melhor, mais justo, mais honesto. Também sonho com uma cidade mais habitável e mais respeitosa de sua história. Sonho até com o tombamento do colégio em que estudei toda a minha vida. Prá mim, muito mais que o depositário da minha história estudantil, mas um símbolo de uma época e de um modelo de educação. Fui e ainda sou, eleitora fiel de candidatos derrotados e, quando eles se tornam vencedores já não carregam consigo os meus sonhos e projetos. Sonhei com Lula presidente, cantei Lula-lá, desfraldei bandeiras, OPTei,com a maior convicção do mundo. Levei junto as minhas filhas...Colecionei derrotas eleitorais e quando o partido venceu pela primeira vez o gosto da vitória já não era como o sonhado. Lembro das lágrimas que teimaram em rolar no meu rosto num histórico comício de Lula, em frente ao Castelão, já de braços dados com "novos aliados". Aquilo não combinava com os meus sonhos...Mas vibrei, cantei e me fiz feliz no dia da primeira vitória. 
A medida que o tempo foi passando, fui dando razão aos meus mestres da Ciência Política que me fizeram ver que a dinâmica política contemporânea tem muito pouco de ideológica. Que a política é um mero jogo de interesses que tem como grand finale, o poder a qualquer custo.
Gente, os acontecimentos dos últimos dias estão me levando a um enorme desencanto. Fico triste por ver o que estão fazendo com o meu país. Fico triste com a irresponsabilidade dos governantes, com a violência da sociedade e com a incapacidade de indignação de muitos...Fico triste com aqueles que fingem não ver, que minimizam a gravidade dos acontecimentos, que se tornam cúmplices pela omissão ou pelas justificativas furadas, do tipo: sempre foi assim, todos fazem a mesma coisa...
E aquí do meu canto, fico pensando no que me resta sonhar...

domingo, 16 de março de 2014

O debate em torno da reforma administrativa da Prefeitura

Está em discussão na Câmara de Vereadores de Natal o projeto de reforma administrativa da prefeitura. Um dos pontos mais polêmicos dessa discussão foi a proposta de extinção da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres. Tentativas de mobilização de forças femininas contrárias à essa proposta foram feitas no chamado Dia da Mulher, sem muito sucesso. A despeito disso, as representantes da causa feminina (ou feminista?) assumiram a condição de grupo de pressão junto ao poder municipal, conseguindo um acordo que funciona como um meio termo entre a proposta do prefeito e dos grupos de mulheres.
O prefeito, na verdade,cedeu à pressão, embora estabelecendo alguns limites que ainda vão render uma boa discussão...
Admirei a proposta do prefeito no projeto de reforma administrativa, pois, como ele, acredito que as políticas públicas voltadas para as mulheres devem estar localizadas nas secretarias cuja ação respondem às questões levantadas pelo movimento de mulheres do Brasil (saúde, educação, trabalho, habitação, segurança) e as restantes dizem respeito ao judiciário, legítimo guardião de direitos dos cidadãos.
No meu doutorado em Políticas Públicas aprendi que em uma sociedade onde as políticas são focalizadas a idéia de universalidade dos direitos, (padrão das sociedades avançadas) fica cada vez mais distante. As políticas focalizadas (mulheres, jovens, negros, pobres) são próprias de Estados de Bem Estar conservadores ( o Estado americano é um exemplo), que em momento algum de suas histórias admitiram o conteúdo das políticas públicas como direitos sociais.
Por isso sou contra qualquer política voltada para clientelas específicas, inclusive as cotas. Quero acesso universal e cidadão à saúde, educação, trabalho e moradia à homens e mulheres, ricos e pobres, brancos, pretos, índios e mulatos. Só assim teremos um país mais justo.
Ademais, a criação de burocracias específicas oneram os cofres públicos sem uma necessidade real e aumenta a duplicidade de programas e projetos com poucos recursos.
É o que penso!

segunda-feira, 10 de março de 2014

Carta à governadora Rosalba Ciarline

Exma. Sra Governadora

            O exercício de governo é um constante processo de escolhas e essas devem ser feitas visando sempre o bem da coletividade e não de pequenos grupos que se achegam aos governantes com o intuito de obter vantagens pessoais. O chamado "progresso" ou desenvolvimento, está sempre na pauta dos governantes e não poderia ser diferente. Ele precisa acontecer para trazer trabalho, e melhores condições de vida aos cidadãos. Mas, ele não pode acontecer destruindo histórias e a memória de um povo ou de uma cidade.  
            Apesar de, não ser cidadã natalense, cheguei a Natal ainda criança e tenho muito amor por essa cidade. O correspondente desse amor é uma certa indignação pelo descuido ou desinteresse dos governantes pela sua história, que se perpetuaria, se não fossem destruídos os marcos arquitetônicos e naturais que são sinais de tempos e acontecimentos que não voltam mais, mas que foram importantes para moldar a evolução da cidade.
           A cidade alta é o berço da nossa cidade e nela, algumas avenidas foram importantes para demarcar o seu limite. Falo da Av. Deodoro, de seus casarões antigos, agora inexistentes, seus antigos colégios, o velho Cinema Rio Grande, o Hospital Varella Santiago, marcos importantes no processo de expansão daquele bairro na direção dos morros do Tirol.
Sou ex-aluna do Colégio da Imaculada Conceição onde passei a todo o meu tempo de estudante. O Imaculada (denominação antiga) ou CIC (como falam os mais jovens) faz parte não somente da minha história mas da história de milhares de natalenses que devem àquele colégio a sua formação intelectual, moral e religiosa. O prédio do Colégio é uma relíquia de nossa história cravada na av. Deodoro tomando todo um quarteirão da parte central da cidade.

No ano de 1906 as irmãs “compraram uma chácara toda murada, bem arborizada, com uma cacimba onde se bebia a melhor água de Natal...” para a construção de um prédio próprio que abrigasse o Colégio Imaculada Conceição. A chácara estava situada na esquina na confluência das ruas atualmente denominadas Deodoro da Fonseca e Ulisses Caldas (antiga travessa dos Correios), na Cidade Alta. Para enfrentar as dificuldades da construção do prédio, contaram com alguns benfeitores como: D. Adauto, João Galvão, Ângelo Roselli, Antônio Vianna, Philadelphio Lyra, Juvino Barreto, sua esposa D. Ignez Barreto e sua filha Ignez Barreto Maranhão – esposa de Alberto Maranhão – governador do Rio Grande do Norte na época. Nesse mesmo ano, as irmãs, entraram na nova casa onde foi instalado, definitivamente o Colégio Imaculada Conceição. 
O ano de 2013 marcou o fim da história do colégio, por razões justificadas pela congregação das Irmãs Dorotéias, cuja coordenação regional está localizada em Recife, e que tem o poder sobre o colégio de Natal. O prédio do colégio foi posto à venda e na ocasião de sua desativação, a Associação de ex-alunos(a) das Irmãs Dorotéias decidiu encaminhar um movimento pelo tombamento do prédio. O processo está em curso. Ele representa não só a vontade dos ex-alunos e alunas do colégio mas também de toda uma cidade que precisa ter sua história preservada. 
Sabedora da pressão das irmãs da Regional Nordeste e dos que pretendem comprar o colégio para que a sua destinação seja livre e sem obstáculos, dirijo-me à V.Exa. solicitando que o clamor da cidade possa ser mais forte do que o interesse de poucos. Tenho conhecimento da sensibilidade demonstrada pelo Conselho Estadual de Cultura ao nosso pleito. A decisão final, no entanto, está em vossas mãos. Que a Imaculada Conceição possa iluminar os caminhos dos decisores e que a sua casa (a capela) e o seu colégio, não sejam destruídos pela violência das retroescavadeiras do progresso.  

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Médicos cubanos

Durante a discussão do Programa Mais Médicos mantive-me em estado de observação chegando a afirmar, em uma ocasião, que só o tempo iria mostrar os acertos e os erros desse programa. Não concordava com a reação dos médicos brasileiros à contratação de estrangeiros mas, ao mesmo tempo, mantinha-me cética quanto à qualificação desses profissionais. Certamente entre eles há bons profissionais mas seria muito bom se soubéssemos as razões que os fizeram aderir ao programa. No meio de tudo, a contratação de médicos cubanos com a intervenção da Organização Panamericana de Saúde, em condições um tanto quanto estranhas para a nossa realidade. Uma remuneração pessoal, diferente da dos demais profissionais (valor bem menor), e uma remuneração ao governo do país de origem. 

Conheço pessoas que foram alunos de medicina em Cuba assim como conhecí jovens cubanos que foram meus alunos em uma universidade americana. Sei que, diante da precariedade das condições de vida no país, os jovens e os não tão jovens, sonham com uma vida de mais conforto e mais liberdade. Os meus alunos foram atletas olímpicos que "desertaram" das delegações e pediram asilo político em algumas embaixadas. Os médicos que aqui chegaram, (muitos já passaram por outros países) certamente não estavam somente movidos pelo sentido humanitário do serviço a ser prestado a população mas também pela oportunidade de desfrutar de condições de vida diferentes. 

A denúncia da médica cubana que deu origem a diferentes interpretações, é o resultado que deveria ser esperado pelos responsáveis pelo programa. A mim não interessa o fato de ela ter ou não ter um namorado (marido) nos Estados Unidos e usar o programa para realizar o desejo de juntar-se à ele. O fato é que o programa dá chances reais para que isso aconteça. É ingenuidade pensar que os jovens cubanos não querem sair do país, não querem ter uma vida de mais liberdade. Eles querem, sim! É preciso pensar também que os ideais revolucionários vêm se desgastando com o tempo e que podem não fazer parte da forma de pensar dos jovens médicos que aqui chegaram. A forma de remunerar o trabalho desses profissionais também é por demais complicada diante desse contexto. O governo cubano está sendo remunerado por trabalho realizado por "cidadãos" cubanos, que não estão a serviço da pátria mais a serviço daqueles que precisam do seu conhecimento médico para sanar os seus problemas. Longe da pátria de origem, é muito natural que reações à esse tipo de acordo entre países seja questionado. A diferença de remuneração entre médicos estrangeiros pode, naturalmente, gerar insatisfação por parte daqueles que podem se sentir discriminados.

Infelizmente, as convicções ideológicas daqueles que tomaram parte na negociação do programa podem não ter rebatimento na realidade daquele país e isso é um problema que pode levar ao fracasso do mesmo. No estudo de políticas públicas isso se chama de "efeitos perversos" da política.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O imbróglio da política potiguar

E tem início o jogo eleitoral. E como em todo jogo, os participantes munem-se de estratégias diversas, para realizarem as escolhas mais adequadas para alcançar o objetivo final. Nada de ideologias ou projetos políticos comuns. Isso é o que menos conta (se é que ainda conta).
Assim fui formada para entender a política numa das instituições acadêmicas mais sérias desse país: a UNICAMP. Formada para ver a política para além das paixões, dos dogmas, das fachadas ideológicas...Ver a política como um acirrado jogo de interesses para chegar ao poder. E é com essas lentes que olho para o atual cenário político do Rio Grande do Norte. Um cenário marcado pela indefinição, pelo oportunismo de todos, pelo salve-se quem puder...

A aliança nacional mantida até bem pouco tempo como a coisa mais sólida do atual momento político parece desmanchar-se no ar. O acordo PMDB/PT para a formação da chapa majoritária parece, agora, coisa do arco da velha. Compromissos assumidos foram escritos na praia de maré seca e já foram apagados pelas grandes marés de janeiro...

O cenário político nacional com a provável candidatura de Eduardo Campo, fez rodar a roleta de novas apostas no cenário local, dando à ex-governadora Wilma Faria um novo fôlego. Parece que tudo gira, agora em torno da definição de sua futura candidatura: Governadora ou senadora? O PSB já não é aliado do PT e é agora, seu grande adversário, sendo portanto, inviável uma chapa que reúna os dois antigos aliados.

Como ficará o PMDB que pretende ter candidato próprio ao governo se Wilma Faria for candidata a governadora? O partido insistirá na sua proposta de seguir junto com o PT apoiando Fátima Bezerra para o senado? E com quem ficará o PMDB caso a ex-governadora decline da indicação de seu partido para a candidatura ao governo do estado e opte pela candidatura ao Senado, tornando-se aliado forte para o PMDB?

Como ficará o PT sem o antigo aliado forte, tão prestigiado em nível nacional pelo governo do PT? É importante lembrar que o partido ficou ainda mais forte em nosso estado, com os cargos assumidos na Praça dos Três Poderes por Garibaldi Filho e Henrique Eduardo. Qual a saída a ser buscada pelo PT para garantir o projeto da direção nacional de aumentar a sua bancada no RN, com um senador, um deputado federal e pelo menos dois deputados estaduais?

Para onde caminhará o vice-governador Robinson Faria, candidato declarado ao governo do estado, mas até o presente momento, candidato dele próprio. O PT vai buscar no partido de Robson, apoio eleitoral?

E como ficará a tão propalada base de apoio da presidente Dilma? Ou não será necessário que as alianças nacionais rebatam nas alianças locais?
O fato é que, por enquanto, apenas a governadora Rosalba aparece como candidata (dela própria ou do seu partido?) e o discurso de uma chapa de oposição, unificada e forte, parece ter sido esquecido.

Muita água vai correr por debaixo da "Ponte de todos" até o fim de abril...Muitos acordos secretos, muita troca de favores, muitas promessas não cumpridas...
O jogo está correndo, as roletas girando, os candidatos fazendo as suas apostas, alguns blefando para tentar a viatória...
E nesse jogo, o que menos interessa, como sempre, é o pensamento do eleitor. O eleitor que é detentor de um poder maior - o voto, mas que ainda não se apercebeu dessa realidade...
Esperemos maio chegar...  

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Que saudades do vestibular...

As mudanças recentes na forma de ingresso das universidades públicas brasileiras varreu para sempre, a emoção do resultado do vestibular com toda a sua ritualística que marcava o importante momento de passagem do adolescente para a fase adulta. A complicação do processo ENEM/SISU com tudo o que ele ainda tem de experimental, tirou a graça da entrada dos jovens à universidade assim como acirrou a competição de uma forma ainda pouco convincente.
"Felicidade, passei no vestibular"...e essa música ecoava nas comemorações depois da ansiosa espera diante da televisão. O radinho de pilha também era ligado pois anunciava o resultado numa ordem diferente da TV... e, que emoção era ver/ouvir o nome do nosso filho, irmão, amigo, naquele anúncio solene. Hoje tudo mudou. E a lógica que rege toda essa parafernália não é de fácil entendimento para o cidadão comum. Após as provas do ENEM inicia-se um processo que, de claro, não tem nada. O primeiro resultado define um número que deve ser multiplicado por alguma coisa até se chegar ao número que vai definir a situação do aluno na competição. A partir daí ele faz suas escolhas -curso, local onde quer (pode) estudar, e fica esperando algums dias enquanto a roleta gira misturando milhares de números. A cada dia, o aluno vai verificando a quantas anda a sua situação nesse grande jogo até que as apostas param de acontecer e depois de 02 dias sai o resultado final, cujo acesso depende da existência de um computador. Ninguém mais ocupando os espaços do campus universitário para conferir as listas de aprovados, nenhuma divulgação na TV universitária ou no rádio e até aquele caderno especial nos jornais do dia seguinte (que alguns guardavam para o resto da vida como lembrança) foi publicado. Também não tenho visto falar de comemorações, talvez pelo fato de que a grande maioria ficou aonde não queria
O vestibular e todo o processo social que se seguia a ele era um rito de passagem importante É triste perceber como momentos significativos para a nossa juventude vão perdendo o encanto do passado e a vida dos jovens vai ficando cada vez mais sem graça e sem motivação...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Verão, veraneio.

E mais um ano começa.
E com o ano, o verão, o veraneio. Um veraneio de novo tipo, como muitos que têm acontecido nesses últimos dez anos. Para mim, o verão sempre foi sinônimo de praia, de vida tranquila longe da cidade, dos pés descalços, do aconchego da família reunida, de uma nova rotina. E eu disse acertadamente: Foi. O veraneio da modernidade pôs uma pá de cal nessa imagem de veraneio. As praias de verão têm agora os signos da cidade. É preciso ter bons restaurantes, bares da moda, casas de show, e som, muito som. "Um alto e bom som". Sem esquecer os congestionamentos do trânsito. E as festas regadas a DJs e a última moda das grifes nacionais e internacionais. Em vez do pé no chão de areia, sandálias altíssimas com muito, muito brilho. Ai que saudades do chão do salão de festas do Redinha Clube: cimento e areia para o pé deslizar melhor. Tenho ouvido por onde passo (inclusive nas redes sociais) reclamações acerca da impossibilidade de dormir nas praias de veraneio do nosso estado. Não culpo os mau educados que ligam os sons de seus carros para mostrar poder. Eles são fruto de uma cultura que valoriza a máquina, a tecnologia, a potência, o som brega (fiquei assustada com a divulgação da 03 músicas mais tocadas no Brasil em 2013). Valores que eles vêm cultivados em suas casas.
Novamente saudades dos antigos veraneios movidos ao som de violões e uma boa música. Assim era o veraneio da minha adolescência e juventude na Redinha. Não havia congestionamento (nem na velha ponte de Igapó) e fazíamos o percurso Natal-Redinha da forma mais bucólica possível: deslizando nas águas do Potengí no barco do velho Janjão ou de "Ferrim" que também pilotava a velha lancha de seu Luiz Romão. Sem telefone, "ipods e ipads" a conversa corria solta em todas as varandas e ninguém ficava ligado em telinhas de qualquer tipo.
Veraneio era sinônimo de tranquilidade e alegria. Muita alegria!
SAUDADES DE UM TEMPO QUE NÃO VOLTA MAIS...